24 maio, 2006




QUARTO DA BAGUNÇA

Era como chamavam aquele criatório de ácaros. Caixas cheias de esquecimento, mofo, objetos amputados espalhados de modo premeditadamente desorganizado. No recôndito mais profundo um cesto, desses de roupa suja, entupido de brinquedos. Da porta entreaberta Edinho espiava curioso, fazia tempo que queria estar só. Fingiu até um mal-estar para não ter que ir às compras. Agora estava ali, livre, com um sorriso triunfante nos lábios e uma ereção estufando seu calção. Ele entra e acende a luz, tira a roupa, senta do lado de uma pilha de revistas, apanha uma Ele&Ela com a foto de Xuxa estampando a capa e passa as páginas até onde lhe interessa. Olhando para ela, se masturba desajeitadamente, passa mais páginas, acelera o movimento e de repente pára. Uma idéia o assalta, ele vai até o cesto e o vira, despejando todo seu conteúdo. Do meio da bagunça, apanha uma boneca da Xuxa do tamanho de uma menina e apressado arranca suas roupas, coloca-a de quatro, encaixa seu minúsculo membro entre as pernas de plástico e inicia um frenético vai e vem.

Dª das Dores entra em casa com uma galinha viva debaixo do braço e gritando pelo filho.
- Edinho, tá melhor meu filho? Se tiver venha simbora logo ajudar seu pai descarregar a feira, venha... Edinho!!! Cadê esse menino que não responde?
Maria da Graça entra logo depois, com uma sacola cheia de guloseimas na mão.
- Gracinha, vá lá ver se seu irmão ta melhor, vá!
- Ai mainha, deixe eu guardar minhas coisas...
- Vá agora menina!
-Tá bom eu vou, tá bom...
A adolescente vai até o quarto do menino e chegando lá encontra a cama vazia, chama por ele e não obtém resposta. Volta pra cozinha e fala pra mãe que não o encontrou.
- Mas num é possível, o que é que esse menino ta aprontando? Vai procurar ele Gracinha, ele deve estar escondido por aí aprontando alguma traquinagem.
- Mas mainha...
- Mas mainha nada! Vá agora mesmo, antes que teu pai entre. Tu sabe como ele fica quando Edson Filho apronta...
A garota sai emburrada procurando-o pela casa inteira sem sucesso, então sai pela porta do quintal e vê a porta do "quarto da bagunça” escancarada. Ela vai até lá e quando entra vê, no fundo do cômodo, o irmão caído de bruços em cima de uma poça de sangue, cravada nas costas dele tem a cabeça de um “Boneco do Fofão” e do lado, intacta e sorridente, sua velha “Boneca da Xuxa”.

Ps. A arte da qual eu me apropriei indebtamente é de Flávio Albino, do site http://www.platinumfmd.com.br/.

15 maio, 2006

XÊXU ou Uma Parábola Sócio-Político-Corporativista Brasileira

Seq.1 / Puteiro / Int-Noite

Aderbal, trazendo Edileuza agarrada a seu cotoco de braço, passa pela cortina de plástico cor-de-rosa do pequeno cubículo, cuja mobília não passa de uma cama de alvenaria, um colchão de palha coberto de chita, um garrafão de vinho cheio d’água e uma bacia de alumínio. Ele fica parado, em pé na porta, dando ordens a pobre rapariga.

ADERBAL
Ei muié, tiresses mulambo véi,
se escancha ali na cama e abre
as perna, coração.

Com a mão que ainda possui, Aderbal tira do bolso uma camisinha, rasga a embalagem com o único canino que lhe sobrou, e com destreza veste-a no antebraço sem mão.

EDILEUZA
Mai Báu, cum cotoco dinovo não,
puramô di Deu! Assim tu mim lasca homi!
Assim é mai caro...

Aderbal se aproxima de Edileuza com olhar ditatorial e um sorriso torto nos lábios emoldurados por um fino bigode. Ele agita ameaçadoramente o braço da mão amputada.

ADERBAL
Mai! Agora fudeu mermo, rapariga
quereno adicioná di insalubidade!
Poi eu, cum essa mão só, cunsigo
lombar é um saco de cimento prucima
dum caminhão.Só pu casa disso,
vôqueré butá é no lordin,
no zé de broquinha, podísivirano!

Edileuza olha maliciosamente para Aderbal e vai tirando sensual a velha calcinha de náilon verde-limão.

EDILEUZA
Ai, bauzim...Num fala assim comiderretu toda...
Vemcá vem bauzim... mai vai digavazim viu?
Queu faço mai barato, aí...eu vô é fazê digraça.
AlZIRA, FECHEI O BALAI! Trai uma talagada de
banha de poico aqui pa eu, trai...

ALZIRA(Gritando)
Hahahahahahhahahahahahahahahhahahahahahahaha
Eita mulesta, já tô veno qui amanhã
o moi dipogloi vai cume no centru!

CORTA PARA: