04 dezembro, 2007



A MORTE - A MOÇA CAETANA
(Com tema de Deborah Brennand)

Eu via a Morte, a Moça Caetana,
com o manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
E os dentes de coral da desumana

Eu vi o estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a cobra casacavel
e na esquerda, a coral, rubi maldito.

Na fronte, uma coroa e o gavião.
Nas espáduas, as asas ofegantes,
que, ruflando nas pedras do sertão,
pairavam sobre urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu sangue iluminado.

[Poema e Iluminogravura de Ariano Dantas Villar Suassuna]

14 novembro, 2007



CÊS SABEM CUM QUEM CÊS TÃO FALANDO? NÃO NÉ? NEM EU

Antes eu não quereria nem papo, sabe? Era dos que achavam que não devia o mínimo que fosse de satisfação. Sabe daqueles que não sabem pedir? Sabia não, de jeito nenhum, muito menos licença, muito menos desculpa, muito menos mão.

Pois foi, eu fui: primeiro pedi pra ela, ela disse só se for no papel e no anel, eu disse qué isso mulher, pra que tanta formalidade? Ela disse que queria ser de Melo, aí fudeu! Num tive pronde correr não, peguei um pau-de-arara cum ela e fui lá pra terra da Escrava Isaura, cheguei lá, tava um toró da gota, tumei café com Dona Deuza, conheci o resto do Olimpo, fui andar a pé numa terra que outrora abrigava canibais, gostei, tomei cerva gelada, conheci um magrelim gente boa que só, conheci Sua Alteza, senti calor que só a gota serena, falei carioquêix... Então finalmente arrastei Dona Deuza pruma pizza, e desembuchei tudo, ela disse “fazer o que né? Deus abençoe vocês”, UFA! Mas ainda num era hora de respirar, inda tinha o de mechas prateadas, osso duro de roer, gastei meu latim, meu grego, meu aramaico arcaico e meu javanês, então quando os sapos coaxaram eu mirei na bola do ôi do bicho e disse... Ele num teve pra onde escapar, foi Deus vos abençoe de novo. Então hoje de manhã foi eu ela e a Deuza, compramo duas argolinha, butamo nos dedim e saimo surrindu e se amostrano por aí. Semana que vem eu mais ela vamo pegar o pau-de-arrara de volta pra Jotapêa. E vcs já sabe né? Lá eu vou passar ela no meu nome, quero ver quem vem tumar!

[Breve relato documental do roubo de uma menina]

05 julho, 2007



GALOPE À BEIRA MARTE

Tava eu procurando um poeta nonsense
Com ouro no dente e olhar surreal
Quando fui encontrar o caboclo ideal
De cajado de pau e andar teixeirense
Ele veio e lascou um repente indecente
Enrolou minha língua, me fez engasgar
Derrotou meu açúcar, fez ele salgar
Empacou minha rima, matou-me de fome
Esqueci meu talento, meu verso, meu nome
Levando lapada na beira do mar.

Vi limeira nadando nas linhas do Tejo
Cantando, tocando, enfrentando a corrente
Nadava de costas fazendo repente
De trás para frente como um caranguejo
Passou por Orlando, que teve um lampejo
E escreveu esse livro pra gente lembrar
A história do vate que soube pescar
O sucesso e o sustento na boca do povo.
E hoje ele vive na gente de novo
Cantando galope na beira do mar.

Encontrei esse bardo na praia em saturno
Andando acocorado caçando os anéis
Que havia perdido no ponto cem réis
Cantando o tenebroso romance soturno:
A Pavoa soltou seu grunhido noturno
E a estátua da praça botou pra chorar
As coroas de frade aprenderam a rezar
O que era de ouro sumiu no escuro
Zé Limeira assustado gritou esconjuro
Cantando galope na beira do mar.

[Estrofes limerianas compostas e transplantadas, por mim, da comunidade do Orkut: Oficina de Cordel - O fractal sampleado dos Batte's backgrounds do site:http://exoteric.roach.org/bg/index.html]

25 abril, 2007








DESENTUPIDORA DERBY BLUE, ESSA SIM VAI FUNDO.

Depois de tanto tempo com a Latrina entupida tive que procurar ajuda profissional: deixei o serviço sujo a cargo do meu amigo Shiko, a mente mais subterránea a rabiscar os banheiros da cidade de João Pessoa. Segundo ele, essa histórinha foi devidamente roubada do blog http://carapuceiro.zip.net/ e é de autoria do ministro da comunicação de nassau, o homem-monstro, xico sá.

22 janeiro, 2007


















MÃE MENINA DOS OLHOS.

Veio um medo cego de não mais ser visto,por aqueles olhos lacrimejantes de cuidado,
incontáveis vezes chorando minhas idas e outras tantas sorrindo minhas vindas envergonhadas.

Sempre me quis de pronto, mesmo sabendo que a cada volta, era um simulacro meu que desembarcava, advindo de mais outra vida, pesado de culpas, carregado de novas falhas.

Nunca deixou de esquecer do desgosto de meus esquecimentos,de me receber com gosto, sem se importar de lamber minhas feridas, de alvejar o encardido dos meus fracassos.

Segui pra mais uma desventura, decaí novamente, desaprendi a voltar. Largou tudo o mais, me deu o colo, o peito, o perdão e o sono.

Fiz pouco, muito pouco e o pouco que fiz foi resistir.

O orgulho me vazou as vistas, me fez mouco pros seus conselhos,mudo pros seus apelos. Era minha vez de cuidar,

Fiz pouco, muito pouco e o pouco que fiz foi desistir.

Congestionei suas vistas, ensurdeci-a da minha voz, emudeci sua esperança.Hoje vivo da alucinação de liberdade e sobrevivo distraído, pois, se me pego só comigo, em algum momento que seja, sinto-me personificação da ingratidão.

E vem sua voz, num medo cego de não mais me ver,com seus olhos lacrimejantes de cuidado,incontáveis vezes sorrindo minhas vindas e outras tantas chorando minhas idas envergonhadas...