13 maio, 2008



O QUE É INDISÍVEL É TAMBÉM INOMINÁVEL

O que eu faço com essa língua que emudece e me umedece os lábios, de um rubor roubado dos céus de minha boca? Essa vontade louca de te enxergar com os dentes e de perder a alma no véu da tua nuca.

O que eu faço com minhas narinas, ávidas pelo gosto quente do teu cheiro? E se me acabam as rimas? E se meu queixo desanda no teu desfiladeiro? Fico eu aqui cansando as retinas, na procura insana do teu paradeiro.

O que eu faço com as pontas dos meus dedos, com minhas digitais traçando linhas em teu corpo, com as minhas palmas te esculpindo o torço? E meus ouvidos, como calo eles? Pedem-me teus sussurros e tuas frases roucas.

O que eu faço sem tuas unhas, incessantemente repintadas, que não me arranham o couro, que não me ferem o cerne, me estraçalhando inteiro? E como fico eu gritando em desmantelo, querendo emaranhar no meu o negro do teu cabelo?

Ai, tu que me fere a razão, me violenta a verve, me embaralha os versos, me entrecorta a fala, me faz de carne e osso, me deixa nu em pelo.


[Mais um aperitivo do sempre futuro InexperiÊncias Poéticas(em fase interminável de revisão e edição)]