01 agosto, 2009

SURRA

Cá estou, caído em mim, enroscado nas teias que eu mesmo teci, esperando o bote de meu próprio ferrão, temendo o veneno da minha própria peçonha, digerindo cada momento de dentro pra fora, como alguém que se espreita e se ri, esperando para dizer-me eu te disse, eu te disse. Debato-me em fúria, me insulto, me aponto, me bato no peito, me empurro, me provoco, me cuspo na cara, me acerto um soco na boca do estômago, me chuto, me digo levanta pra apanhar! Engatinho e levanto chorando, me olho nos olhos, pergunto porque? Não me respondo, sorrio com desdém, me dou uma sonora tapa na cara. O sangue escorre pra boca, sinto o sal e o ferrugem do gosto, me limpo com as costas da mão, bato a poeira que me arruinou a roupa, levanto a cabeça, engulo as lágrimas, caminho pra mim sentindo cada passo, cada dor, cada vergonha. Chego até mim e me abraço com toda força que pude reunir, e digo ao pé do meu ouvido - Já chega, já chega, eu me perdôo, me deixa em paz, me deixa ir, me deixa viver, me deixa sorrir, me deixa chorar, me deixa sentir, me deixa calar, me deixa dormir, me deixa acordar, me deixa seguir, me deixa. Me pego pelos ombros, afasto meu rosto de mim, me olho nos olhos, enxugo cada um deles com meus polegares, coloco uma de minhas mãos na minha nuca e me dou um beijo na boca, com força, com raiva, até faltar-me o ar. Olho minha cara espantada e me digo – Vai, vai, você venceu, pode ir.