20 julho, 2009


PINHO SOL, LUA, ESTRELAS, FLORES, SINOS, FOGOS DE ARTIFÍCIO, PASSARINHOS VERDES...

Pois é, meus caros 2 ou 3 leitores, pelo que vocês andaram lendo por aqui, A Latrina já está começando cheirar a lavanda e patchouli. Portanto, para não acabar de vez com a minha má reputação, criei um outro blog, INEXPERIMENTOS , onde publicarei todas as inexperiências cheirosinhas, doces e meigas, que vocês adoraram descobrir. Quanto À Latrina, vou continuar jogando por aqui o que não puder jogar no ventilador do mundo.

10 julho, 2009


DARSHAN

Como eu poderia prever, que aos 35 anos e 33 dias, que uns tais Drávidas quase esquecidos, viventes aproximadamente 4509 anos antes de mim, pudessem me explicar exatamente a realidade do meu amor por ela?

Como eu poderia imaginar que a deidade que eu vejo, na mulher do meu desejo corporificado, é a mais divina realidade de ser, estar e existir? Que o ato de amar é nada menos que enxergá-la tal como ela é de verdade?

Talvez eu nem precisasse saber do que já intuía, que seu corpo é o meu templo, os seu olhos meu oráculo, sua boca a minha fonte, suas mãos o meu guia, suas pernas meu alicerce, o seu ventre meu altar, o seu prazer meu sacerdócio e o meu gozo uma oferenda. Sempre busquei um motivo palpável para minha eterna comoção, para minha sempre espera, para toda minha calma, para este contentamento, para as lágrimas incontidas, para a vontade sem limites, para o encolhimento do ego, para a sensibilidade exacerbada, para a razão só aumentar a emoção.

Esteve tudo sempre ali não diante do meu nariz, mas bem dentro da minha alma. Desde o meu primeiro olhar, desde o seu primeiro gesto, desde o meu primeiro encanto diante da sua fala. Era só viver, viver, viver e esperar o universo todo se movimentar, com o único e exclusivo intuito de me por diante do seu divino olhar.

Então o cosmo conspirou e disfarçado de acaso, utilizou suas artimanhas: armou encontros improváveis, plantou lembranças inesquecíveis, nos lançou no meio do mundo, nos fez aprender o sofrer e o prazer. Quando tudo parecia mais que esquecido, usou seu golpe de mestre: tornou-se gente, alinhavou os opostos. E no instante sagrado da profecia se cumprir, eu vi o que sempre vi e ela viu o que nunca viu, olhei para a deusa de sempre e ela deu à luz um deus.

[Darshan = visão de um ser sagrado]
[A imagem é da união entre Shiva e Shaktí]

01 julho, 2009




A MORTE E A CACHORRA

Arrastou-se debaixo de sol, tropeçando nas pernas, pisando em carne viva, estalando em cada passo um osso,
Podendo cada um ser muito bem enxergado, colado embaixo do couro.
Do meio do azul seu túmulo espia.
Tombou na sombra dum facheiro, pra num só corisco lembrar:
De suas pegas de boi, dos cafunés, das caçadas, das butijas enterradas.
Chegou a escuridão, um bico lhe arranhou o bucho, do jeito dos cachorros ela
sorriu.



[a ilustração é minha também, de vez em quando me canso de roubar]