08 abril, 2009


DESPERTAR

Ver-te acordar, bela, desgrenhada, esparramada em uma beira de cama mais tua que minha. Velar teu sono em segredo, sorrir diante do teu ar inocente, esquadrinhar cada naco de carne alva, sentir o gosto de tua respiração, desejar-te mais a cada inspiração. Dar-te o peito de presente, sentir a culpa de atrapalhar teu sono. Querer te acariciar com água e espuma, mesmo sem poder. Sentir-me o mais teu, sentir-te a mais minha nesse recôndito planeta. Interromper tua raiva com um beijo, aceitar as desculpas que nunca precisariam ser pedidas, babar teu pescoço ignorando protestos. Observar-te sonâmbula a pentear os cabelos, que tanto insisto em desarrumar a cada instante. Tentar parar o relógio com o pensamento e conseguir apenas me atrasar. Gostar de me atrasar. Senta-me contigo a mesa e sentir teu hálito de café. Esquecer qualquer coisa, te abrir a porta, te acariciar a perna na zona proibida, sorrir com a delicadeza dos teus lábios em meu ombro. Resistir em te deixar na porta, esperar teu beijo de ponta cabeça. Sair por aí contigo na cabeça, continuar contigo na cabeça, tentar te tirar um pouco da cabeça e fracassar nessa empreitada. Escrever-te algo pretensioso, sem um único pingo de razão pra atrapalhar. Enviar-te esse algo e esperar pra ver o castanho dos meus olhos brilhando em meio ao verde profundo do teu olhar.